Ciências da natureza é diferente de estudo da natureza

Professor ensina uma criança na natureza, explicando uma planta com atenção, em uma cena ao ar livre com luz suave e ambiente natural.

Desde criança eu tinha uma paixão por um arquétipo muito comum na minha geração: o do cientista. Mas, na realidade, eu não me enxergava como aquele homem de jaleco branco e cabelos bagunçados que dizia “Eureka!”. Aquela imagem não era tão atraente para mim. O que me encantava eram os feitos desse personagem — ou pelo menos, o que eu achava que eram seus feitos.

Ali surgiu meu interesse mais genuíno por este tema: a ciência.

Mas o tempo passa, você cresce e tem que trabalhar. Suas certezas começam a se tornar dúvidas. Aquela figura que eu via nos desenhos animados, que eu admirava, simplesmente não existia no mundo real. Diferente de uma criança que via um policial ou um detetive e poderia um dia se tornar um, eu não via nenhum cientista ao meu redor. Então o que eu deveria fazer?

Eu não sabia. Ninguém sabia. E com o tempo percebi que essa pergunta estava desconectada da realidade.

É como o menino que quer ser astronauta. Enquanto criança, todos o acham fofo e cheio de sonhos. Mas, se a vontade persiste na juventude, logo é rotulado como ingênuo ou estúpido — porque aquilo seria impossível.

O mais curioso é que, mesmo após me graduar em Geologia e fazer mestrado em Geociências, eu já não gosto nem uso mais o nome “cientista” para me descrever, como já imaginei fazer um dia.

Falo isso porque percebi uma grande mentira que foi vendida às últimas gerações. Sim, digo com clareza: não existe cientista. Ou melhor, o que nos vendem com esse nome não corresponde à realidade. É um termo vazio, idealizado, construído — e comprado, como eu também comprei um dia.

Para que você entenda o que quero dizer, vou refletir junto contigo.

Enquanto criança, estamos imersos em um mundo onde tudo é novo. Conhecemos as coisas sem nos preocupar com o que elas são, de fato. Apenas as recebemos como parte da realidade. O trabalho mais elaborado, cognitivamente falando, deveria ser do adulto. Mas nossos pais e protetores também foram vítimas de um sistema fraco, centralizador, que destrói o indivíduo até em suas experiências mais simples. É difícil exigir algo deles. É difícil ensinar o que não se aprendeu.

Com o tempo, percebemos que muitas das coisas que consumimos como verdade eram mentiras. E só descobrimos isso quando decidimos buscar a verdade em si — o que é um trabalho constante, gradual e exigente.

Um dos problemas principais está na palavra “cientista”, que vem do termo “ciência”. Mas por que isso importa?

Porque quando falamos de ciência ou de cientistas sem saber exatamente o que esses signos significam, podemos estar transmitindo ideias com as quais nem concordamos — e nem sabemos.

No mundo moderno, ciência passou a significar apenas aquilo que é concreto, controlável e replicável em laboratório. É o que chamam de conhecimento experimental. Mas a maior parte das coisas que tentam nos explicar hoje não pode ser reproduzida em laboratório. Daí surgem os modelos — criações mentais que tentam explicar o que não se pode observar diretamente.

Esses modelos servem muitas vezes para camuflar as limitações — ou até mesmo as mentiras — da ciência moderna.

Para que os modelos funcionem, os especialistas criam recortes muito específicos da realidade. Limitam as observações, geram dados artificiais, falseiam contextos e, por meio da retórica, convencem os outros de que estão falando de algo real — quando, muitas vezes, estão apenas falando de hipóteses fantasiosas.

Resumindo: eles escolhem um pedaço da realidade, ignoram o resto, e constroem uma “verdade” a partir disso. E ainda recebem investimentos e apoio institucional para que essas verdades artificiais sejam espalhadas pelo mundo. Há muitos interesses por trás disso tudo.

Fugindo dessa lógica, quero compartilhar um outro olhar. Um que me ajuda até hoje.

Para mim, ciência é um sistema de informações organizadas. Ela pode acontecer em infinitas áreas. Não se restringe ao mundo concreto, nem depende de laboratório. Pode ser observacional. Pode ser sensorial. Pode ser simples.

Existe ciência que estuda a vida e os seres vivos — a biologia — e ciência que estuda terra através das rochas — a geologia. Mas são termos muito amplos. Dentro deles, há muitas outras ciências. Por exemplo, uma pessoa que entende profundamente a vida de um golfinho, a partir da convivência, da observação e da experiência direta, tem uma ciência. Talvez o que ela saiba não possa ser reproduzido em laboratório, mas ainda assim, é ciência real.

Segundo o mundo acadêmico, ela não seria cientista. Mas na minha visão, é sim.

Quando nos interessamos por um tema, começamos a questionar tudo ao nosso redor. Essas perguntas libertam a mente e o coração. É aí que começa a ciência real — a busca pela verdade. Essa busca não exige diploma, nem autorização do Estado. Não depende de uma instituição. Depende apenas de comprometimento com a verdade.

Assim, de certo modo, todos nós somos cientistas, se considerarmos o que expliquei como ciência. Cada um trabalha com aquilo que o move. Mas eu te pergunto: era essa a imagem de cientista que você tinha na infância? Provavelmente não.

Não quero brigar com o sistema, nem pretendo mudá-lo. Mas eu também não me encaixo nele. O nome “cientista”, tal como é usado hoje, não me representa. Foi criado recentemente, com um sentido moderno que não condiz com o que faço. Minha descrição se afasta da maioria dos “cientistas” e “especialistas” que se apresentam por aí.

Por outro lado, o termo que não abandono é ciência. E por isso explico o que ela significa para mim.

Se eu trabalho com ciência, mas não sou um “cientista moderno”, então o que sou?

Sou professor. Mas não no sentido escolar comum. Professor, para mim, é aquele que professa a verdade. Aquele que educa. Que conduz o outro a buscar a verdade que já existe dentro dele, mas estava esquecida ou adormecida.

O aluno é diferente do estudante. O aluno é passivo. Cumpre o que pedem, sem se importar muito. O estudante é ativo. Ele deseja conhecer. Tem sede de verdade. Uma chama viva que não se apaga enquanto ele se reconhece como ser em busca.

O educador é aquele que acende essa chama. Ele é instrumento. Ele tem uma missão. É Deus quem dá esse chamado. Simples assim.

Jesus nos pede para levar a Palavra — a verdade. Ele nos chama a acender essa chama no coração de cada irmão. Cada um faz isso de um jeito. O educador de natureza é um desses caminhos. Ele apresenta a ciência real — aquela que muitos hoje rejeitam.

O educador de natureza não perde tempo com convenções humanas vazias. Ele pode até entendê-las, mas reconhece seus limites. Ele vê que há muita soberba nos modelos que tentam explicar o que só Deus compreende plenamente.

Por isso, ele ensina a observar, a descrever e a classificar a partir da realidade, e não de abstrações. Ele não quer que o estudante decore modelos, mas que conheça os dados como realmente são. Ele se torna muito diferente do cientista moderno.

Talvez você seja um educador de natureza também. Talvez só estivesse com a chama apagada.